Botox e Incontinência Urinária


Existem vários tipos e graus de incontinência urinária, que é a "eliminação involuntária de urina, objetivamente demonstrável, podendo causar problemas de saúde e de higiene", segundo a ICS (International Continence Society). Entretanto, dois tipos de incontinência, em particular, têm maior prevalência nos consultórios urológicos: a) aos esforços físicos, desencadeadas por tosses, espirros, ginástica, risos, etc. e b) de urgência, desencadeadas por contrações involuntárias da bexiga durante e fase de armazenamento urinário, quando esta deveria estar relaxada, e é caracterizada pelo desejo súbito e incontrolável de urinar, com perda antes da chegada ao banheiro.

A incontinência de urgência (Síndrome da Bexiga Hiperativa) pode ser secundária aproblemas neurológicos (bexiga neurogênica) ou as chamadas idiopáticas (de causa ainda desconhecida), estas últimas mais comuns em mulheres consideradas normais, na pós-menopausa. Como causas neurológicas mais observadas têm-se: seqüelas de AVC ("derrame cerebral"), Mal de Parkinson, Doença de Alzheimer, Esclerose Múltipla, mielorradiculopatias, mielodisplasias (mielomeningocele), infecções / tumores do sistema nervoso central, traumatismos raquimedulares (TRM) e cranioencefálicos (TCE), entre outras mais raras. Nesta classe, algumas incontinências caracterizam-se pela perda súbita, porém sem a percepção da sensação urinária. Estão geralmente relacionadas aos acometimentos da medula espinal e são reclassificadas como Bexiga Hiperreflexa.

Até hoje, basicamente, o tratamento da bexiga hiperativa consiste na administração de medicamentos da classe dos anticolinérgicos, antidepressivos tricíclicos ou mediantereeducação miccional com mudança de hábitos ou procedimentos em Fisioterapia, sendo o mais utilizado a Eletroestimulação de Baixa Freqüência da bexiga. Os maiores problemas relacionados ao uso de medicamentos são a presença de efeitos colaterais, particularmente secura na boca, além do custo financeiro e do tempo de tratamento que é prolongado, muitas vezes "ad infinitum".

Há pouco mais de 10 anos, a toxina botulínica do tipo A (Botox®), vem sendo testada em vários serviços urológicos do mundo, apresentando expressivos resultados benéficos no controle desta síndrome urinária. É obtida pela coleta da toxina elaborada pela bactéria causadora doBotulismo (Clostridium botulinum), doença que leva à paralisia muscular generalizada, podendo resultar na morte. Entretanto, quantidades ínfimas, esta toxina, largamente utilizada para atenuar rugas da face, não representam risco à saúde. Quando injetadas em 20 a 30 pontos da parede interna da bexiga, através de cistoscopia sob sedação (anestesia superficial), são capazes de inibir as contrações involuntárias, geradoras das incontinências de urgência. Traz a vantagem de ter um efeito prolongado- podendo chegar a um ano - antes de necessitar de nova aplicação. Em raros casos, ultrapassam os doze meses de ação, havendo relatos de até dois anos de êxito.

Faz-se necessário informar que é um tratamento alternativo aos habitualmente utilizados. Não é a solução dos problemas indesejáveis relativos à bexiga hiperativa, mas representa um avanço consistente no controle dos sintomas urinários e na proteção da função dos rins, por redução da atividade pressórica dentro da bexiga. Ressalte-se que na incontinência urinária de esforço, o Botox não produz resultados.

Carlos Bayma

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